Lendo algumas reportagens sobre a situação do povo do Haiti. Uma me chamou muito a atenção, a luta dos jornalistas que estão cobrindo a tragedia deste povo. O sofrimento também se estende aos profissionais que lá estiveram e ainda estão. Entre os depoimentos de jornalistas a comoção é unânime. Seus registros pessoais e as entrevistas que concederam a colegas sobre a cobertura são tantos que acabam por revelar a necessidade que esses profissionais sentiram em compartilhar experiências e sentimentos. É comum perceber um forte sentimento de solidariedade entre os profissionais de mídia e a população do país. Ao mesmo tempo em que registram a história, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas não passam despercebidos por ela. São evidências desse desafiante trabalho. São vídeos, textos e links relacionados ao tema, além de notícias publicados, reveladores de uma tragédia que, do ponto de vista jornalístico, passa necessariamente pela angústia de lidar com situações extremas.
Relato do enviado Especial ao Porto Príncipe o repórter Rodrigo Lopes do Jornal Zero Hora; Que conta as Cenas de luta pela sobrevivência, de corpos insepultos e de uma cidade que deixou de existir marcam o drama haitiano. A última cena do país devastado pelo terremoto ainda martela: mulheres esfarrapadas, tentando driblar os policiais, agarrando-se ao nosso carro, em uma tentativa vã de fugir do horror. O portão se fechara. As mulheres foram jogadas de volta ao seu país. Ou ao que sobrou dele. Nós, os eleitos, passamos. O Taxista do Hotel Intercontinental de Santo Domingo, Miguel, acostumado a guiar turistas pelo seu belo país, fora transformado a fórceps em correspondente de guerra. Contratado por nossa equipe, ele vira no Haiti corpos insepultos espalhados pelas ruas, gente brigando por um pedaço de pão e uma garrafa de água, uma cidade que deixou de existir. Por isso, o choro ao falar com a filha.
– Deus nos livre de tudo o que vi, minha filha! – grita, em espanhol. O que passaria pela cabeça de Miguel? No carro, somos cúmplices do seu desabafo. Compreendemos parte de seu sofrimento depois de uma conversa, dias antes. Sua mulher viajara para a Argentina para trabalhar. Um dia, avisaram por telefone que ela fora assassinada. Fazia apenas três meses, e agora ele estava ali, entre ruínas. Por não ter tido a chance de se despedir da mulher e de sepultá-la, Miguel revoltava-se diante de cada corpo que encontrávamos em Porto Príncipe. Também repórter da Reuters, Catherine Bremer. Que conta sua trajetória: Barracas, receptores de satélites, laptops e cabos atravancavam o jardim de um hotel parcialmente destruído no Haiti, onde os jornalistas digitavam freneticamente, gritavam em telefones por satélite, amaldiçoavam as falhas dos geradores e corriam para a beira da piscina a cada tremor secundário. E centenas de repórteres, fotógrafos e equipes de TV chegavam ao Haiti desde o terremoto de 12 de janeiro, que matou até 200 mil pessoas no país mais pobre das Américas. Muitos usavam e usam as mesmas roupas imundas dia após dia, lavam as roupas íntimas nos três minutos de banho diário em um banheiro coletivo e dormem bem distantes das paredes, por causa do perigo representado pelos recorrentes tremores derivados do terremoto principal. Usar os banheiros rachados no subsolo do hotel pode ser uma experiência enervante.
Os desafios logísticos de cobrir uma notícia em um país com a infra estrutura em ruínas se soma ao abalo emocional decorrente de conviver com corpos em decomposição, crianças órfãs, sobreviventes com feridas abjetas e um mar de refugiados famintos. Muitos jornalistas admitem ter chorado. A maioria distribuiu ataduras, creme antisséptico, água, comida ou dinheiro para as vítimas, e vários agiram para salvar vidas. Um jornalista chamou uma unidade militar e se recusou a deixar um local com vítimas até que as equipes conseguissem retirar um menino com a perna gangrenada. Outro carregou morro abaixo uma menina com uma grave lesão numa perna, até entregá-la a um cirurgião. É comum perceber um forte sentimento de solidariedade entre os profissionais de mídia e a população do país. Ao mesmo tempo em que registram a história, repórteres, fotógrafos e cinegrafistas não passam despercebidos por ela. É uma profissão em que se abraça com muita paixão e compromisso com a ética e a ação da solidariedade, mas, têm seus grandes e arriscados desafios para cumpri suas pautas. Não há como não se envolver por vezes sentimental e revoltar-se com o que se vê.
Vale a leitura da revista Imprensa - edição de março (nº254, pág.70, "Diante da dor dos outros")
Um comentário:
Olá Susana,
Obg pelo comentário em meu blog! Que bom que vc gostou, o seu é muito bom.
Esse assunto dever ser bem discutido, não tem como não ver todo esse sofrimento e não se envolver, ótimo post, parabéns!
um grande abraço.
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