O
governo federal poderá adotar os dois modelos em avaliação como padrões
de rádio digital, apesar do país estar fazendo testes comparativos
entre o americano, conhecido como In-band on-channel (Iboc), e o
europeu, o Digital Radio Mondiale (DRM. Diferentemente do que ocorreu
com a TV digital - em que o modo japonês foi o único escolhido -, os
dois modelos de rádio digital poderiam coexistir com viabilidade
econômica, embora comercialmente um deva se sobrepor ao outro.
Politicamente, a saída agradaria tanto às emissoras que já investiram
no modelo Iboc, quanto aos partidários do modelo DRM, que é livre de
royalties. Para tomar esta
decisão, o Ministério das Comunicações avalia a publicação de uma
portaria com parâmetros que não restrinjam o mercado a um só modelo. O
ministro Hélio Costa quer resolver a questão antes de deixar o governo,
até o fim de março.
O único fabricante
americano do Iboc, que já fornece sistemas digitais a emissoras
brasileiras, é o consórcio Ibiquity, que cobra royalties pelo uso.
Algumas das 4,5 mil emissoras comerciais de AM e FM já adquiriram
equipamentos para migrar do modelo analógico para o digital. A
principal vantagem do Ibiquity é a certeza das emissoras em
digitalizar-se mantendo o mesmo canal (número no dial). Mas governo e
empresas têm restrições quanto aos royalties cobrados. Um grupo de técnicos
e universidades ainda mantém os estudos do modelo DRM. Se os testes
provarem que o modelo europeu também permitirá que as rádios mantenham
os canais de transmissão - questão pétrea para as emissoras -, então a
discussão comercial esquentará, porque o modelo europeu não cobra
royalties. O problema, porém, seria que as empresas que compraram o
Ibiquity já gastaram, em média, R$ 150 mil pelos equipamentos, e,
portanto, preferem o modelo americano. Nos testes já encerrados, o
Ibiquity teve problemas de eficácia em ondas médias (AM) e curtas (OC e
OT). Para FM, são perfeitos.
Pode não ser viável
economicamente, contudo, produzir receptores de rádio que aceitem os
dois modelos, Ibiquity e DRM. Por isso pode haver segregação entre os
aparelhos receptores AM/FM e os específicos para ondas curtas.
No caso das ondas
curtas, o DRM já provou ser mais vantajoso, com grande ganho de
qualidade de som e livre das frequentes interferências na banda. A
aceitação pelo governo dos dois modelos poderia permitir que essas
emissoras de OC e OT transmitissem em sistema diferente das AM/FM. Daí
a possibilidade de coexistirem ambos os modelos de rádio digital no
país. A hipótese não é absurda, haja vista que existe hoje, no Brasil,
1,5 aparelho receptor de rádio por pessoa e que as ondas curtas têm um
mercado bastante específico.
Como o sistema de
rádio digital é, em termos gerais, mais barato que o da TV digital - em
que foi definido o padrão japonês -, a possibilidade de haver mais de
um modelo não restringiria o potencial econômico para ambos os sistemas
conviverem. No caso da TV, a multiplicidade de modelos reduziria
perspectivas de crescimento e exportação de infraestrutura e aparelhos
receptores para países vizinhos.
Antes férrea
defensora do Ibiquity, a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e
Televisão (Abert) espera o encerramento dos testes do DRM para
apresentar sua posição final. "A única posição em que a associação é
irredutível sobre a rádio digital hoje é a previsão de as emissoras
manterem o mesmo canal de transmissão", diz Luis Roberto Antonik,
diretor-geral da Abert. "Defendemos essa ideologia e não
necessariamente um padrão".
Pela rádio digital, o
usuário poderá ter, além de maior qualidade de som, serviços agregados,
como a possibilidade de ouvir podcasts, interagir na programação e
receber imagens e informações no visor do aparelho.
Fonte: Valor Econômico