13 fevereiro 2010

A ilusão do reflexo


Conta-se que um pai deu a sua filha um colar de diamantes de alto preço. Misteriosamente, alguns dias depois o colar desapareceu. Falou-se que poderia ter sido furtado. Outros afirmaram que talvez um pássaro tivesse sido atraído pelo seu brilho e o levado embora. Fosse como fosse, o pai desejava ter o colar de volta e ofereceu uma grande recompensa a quem o devolvesse: R$ 50.000,00. A notícia se espalhou e, naturalmente, todos passaram a desejar encontrar o tal colar.
Um rapaz que passava por um lago, próximo a uma área industrial, viu um brilho no lago. Colocou a mão para proteger os olhos do sol e certificou-se: era o colar. O lago, entretanto, era muito sujo, poluído, e cheirava mal. O rapaz pensou na recompensa. Vencendo o nojo, colocou a mão no lago, tentando apanhar a jóia. Pareceu pegá-la, mas sentiu escapulir das suas mãos. Tentou outra vez. Outra mais. Sem sucesso. Resolveu entrar no lago. Emporcalhou toda sua calça e mergulhou o braço inteiro no lago. Ainda sem sucesso. O colar estava ali. Mas ele não conseguia agarrá-lo. Toda vez que mergulhava o braço, ele parecia sumir. Saiu do lago e estava desistindo, quando o brilho do colar o atraiu outra vez. Decidiu mergulhar de corpo inteiro. Ficou imundo, cheirando mal. E ainda nada conseguiu. Deprimido por não conseguir apanhar o colar e conseqüentemente, a recompensa polpuda, estava se retirando, quando um velho passou por ali.
O que está fazendo, meu rapaz? O moço desconfiou dele e não quis dizer qual o seu objetivo. Afinal, aquele homem poderia conseguir apanhar o colar e ficar com o dinheiro da recompensa. O velho tornou a perguntar, e prometeu não contar a ninguém. Considerando que não conseguia mesmo apanhar o colar, cansado, irritado pelo fracasso, o rapaz falou do seu objetivo frustrado. Um largo sorriso desenhou-se no rosto do interlocutor.
Seria interessante, falou em seguida, que você olhasse para cima, em vez de somente para dentro do lago. Surpreso, o moço fez o recomendado. E lá, entre os galhos da árvore, estava o colar brilhando ao sol. O que o rapaz via no lago era o reflexo dele. A felicidade material se assemelha ao reflexo do colar no lago imundo. Na conquista de posses efêmeras, quase sempre mergulhamos no lodo das paixões inconseqüentes.
A verdadeira felicidade, no entanto, não está nas posses materiais, nem no gozo dos prazeres. Ela reside na intimidade do ser. Nada ruim em se desejar e batalhar por uma casa melhor, um bom carro, roupas adequadas às estações, uma refeição deliciosa. Nada ruim em desejar termos coisas. A forma como as conquistamos é que fará a grande diferença. Se para as conseguir, necessitamos entrar no lodaçal da corrupção, da mentira, da indignidade, somente sairemos enlameados, e infelizes. Esse tipo de felicidade é como o reflexo do colar na água: pura ilusão.
Somente existe verdadeira felicidade nas conquistas que a honra dignifica, que a consciência não nos acusa. Pensemos nisso. E, antes de sairmos à cata desesperada de valores materiais expressivos, analisemos o que necessitamos dar em troca. Porque nada vale que mereça sacrificar a honra, a dignidade pessoal, a auto-estima, a vida espiritual.
Tudo é passageiro na Terra.

09 fevereiro 2010

Para Quem Sofre

Experimente olhar tudo em seu fluxo feito de conexões e desconexões eternas e começará a compreender a complexidade da tarefa de viver. Vida é o drama criativo da existência. Existir e insistir será sempre problemático. Impõe cautela, acuidade, observação, ausência de plenas respostas. Viver dói, mas cura. Apesar do erros. Repare em tudo o que começa a dar certo dentro de você, compatibilizando seu ser com a sua vida.

Prepare-se para o que começa a se encaminhar para o que é bom em você! Seja capaz de aceitar e também enfrentar tudo de melhor que tem. É preciso força e coragem para aceitar o bem que mora em nós. Coragem serena, não arrogância.
Prepara-se para a sua capacidade de amar, para sua melhor beleza, para fazer cada vez melhor o que você sabe, seja quindim, amor, coleção de selos, estudos transcendentais, harpa, pipoca, sinuca ou cirurgia ocular.
Prepara-se para dar certo. Para ser querido. Para merecer o amor que teme. Aceite a pluralidade da vida. Somos vários num só e há muitas verdades no mundo, todas precárias. “Há tantas religiões quanto pessoas” (dizia Ghandi). Há tantos métodos quanto indivíduos. Experimente descobrir e até, se for possível, aceitar a visão da verdade que impulsiona o seu adversário e anima a luta de seu inimigo. Ouça o que ele tem a ensinar ainda que sob o manto da maldade ou da injustiça. Pense em todas as direções, com mão e contramão em cada estrada. Repare que só cresce e melhora quem entra, enfrenta e aceita o seu pior. Abra-se sem receio para tudo o que seja compreensão, até do que nunca foi nem será entendido. Aceite a complexidade que faz a vida e anima o homem a se agitar neste mundo, buscando realizar o que nunca conseguirá plenamente, mas lhe dará o alívio do dever cumprido uma das grandes Graças de Deus.
Arthur da Távola

07 fevereiro 2010

Admirar e garimpar as minas do coração humano, eis a nossa Vocação! ( Adaptado)


Uma das coisas que mais  fascina  é a capacidade admirável de Deus nos amar. Apesar de tantas atribuições que caracterizam o Amor no dia a dia, mas me importante,  a  admiração. Ora o Amor de Deus nos admira, com seu olhar nos acompanha, nos modifica através do amor. Quando você admira, você mira, e assim consegue ver muito além… É isso que Deus em seu grande amor nos faz. Nos admira porque nos vê além do que somos, do que deixamos de fazer. Por isso muitos amigos já não se entendem, muitos Casais e Namorados e mesmo muitas Famílias já não sabem mais como cultivar o Amor em suas relações, porque esqueceram-se de se admirar e de se olharem. O máximo que olhares abarcam são as aparências, o egoísmo, a arrogancia, os limites, as dificuldades.
Há uma beleza insondável no oficio do garimpeiro que nos permite entender o motivo da admiração nos emprestar um jeito diferente de Amar. A nossa vocação por ser fundada no Amor precisa se semelhante a de um garimpeiro. “Precisamos ser garimpeiros… das minas do coração humano”. E  só podemos exercer tamanha grandiosidade quando tivermos  a capacidade de admirar, e mirar além…
A admiração é uma ferramenta indispensável, pois ela empresta ao garimpeiro a coragem e a persistência. Ali no garimpo, ele rasga a dureza do chão em busca da pedra preciosa. Por vezes as mãos se ferem na busca, e a dor só se torna suportável porque há a esperança do encontro. Cada movimento é resultado de sua admiração. Cada gesto se torna admirável por ser fruto de sua habilidosa coragem de ver além das aparências dos cascalhos. Alias, só é admirável porqueCOR + AGEMé aquela força que age e brota do coração - (Cor, cordis = coração. Agem = força, agir). Ele admira e trabalha a mina à sua frente a partir da ótica do coração. Interessante e que singular movimento é o de Deus diante da Nós.
Para chegar à pedra rara, o garimpeiro terá seus dedos feridos pelas pedras comuns, mesmo que se utilize de outros instrumentos do garimpo. Não obstante, chega um momento em que ele precisa ignorar tais instrumentos e valer tão somente de suas mãos, pois a missão do seu oficio requer cuidados especiais. Assim também é a mão admirável do Amor de Deus que nos acompanha e nos ensina como garimpar os corações humanos. Ou  a mina do coração humano. O garimpeiro não se prende ao medo dos ferimentos, mas investe constantemente em movimentos de procura. Mete a unha no chão, peneira os excessos, remexe a lama, até que os seus olhos encontrem o brilho opaco da diferença.
E com a descoberta, o sorriso, a força, a luta renasce, restaura e faz esquecer a dor que marcou o tempo da procura. O Amor que admira sobrevive dessas buscas. Não nos esqueçamos que a nossa missão é vocação também. É bom por os olhos no que esperamos. É bom admirar aos que amamos. É bom também garimpar a mina do coração daqueles que encontramos. Aliás, penso que essa é de fato a nossa vocação. Um sorriso, uma acolhida, um abraço, um perdão, uma palavra de amor, um gesto de amizade, são terrenos fecundos para se cultivar esta vocação. Toda a mina tem pedras preciosas guardadas esperando pelo nosso oficio de garimpeiros. Que o Amor de Deus,  nos ajude admirar e nos ensine a garimpar quantas minas Ele nos permitir encontrar.
( Jerônimo Lauricio)